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Discriminação que mata: quando a sociedade gera fatores de risco para o suicídio

Dados do Ministério da Saúde mostram que, no Brasil, jovens entre 10 a 29 anos que se declaram pretos e pardos têm 45% mais chance de cometer suicídio do que brancos na mesma faixa etária. Ao mesmo tempo, o número de LGBTs que tiraram a própria vida aumentou mais de 284% de 2016 para 2018, segundo o relatório “Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil”, realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB).
É a posição de vulnerabilidade que torna ambos grupos suscetíveis à, não só cometer suicídio , mas ter depressão ou outros problemas que afetam a saúde mental de alguma maneira. “A população LGBT, por exemplo, entra como grupo de risco por causa da homofobia, da falta de suporte frente à orientação sexual e identidade de gênero e todas as especificidades dessa população”, diz a psicoterapeuta Juliana Molinas ao iG Saúde .
O preconceito também é recorrente e coloca em risco a vida de pessoas negras , como explica a psicóloga Maria Conceição Costa, coordenadora da ANPSINE — Articulação Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (res).
“O próprio racismo leva os jovens negros a essa situação, pois a violência, física e simbólica, a falta de perspectiva, a desumanização sobre si, leva a uma desesperança no viver. [Eles] crescem sem perspectiva, achando-se incapazes, já que, desde criança são tratados como problemáticos, feios, sujos, mal educados ou seja, fora do padrão ‘ideal’ de educado, belo e ‘civilizado’.”
“Assim, a violência contra as negras e negros age, também de forma psicológica contra eles, sendo um mecanismo que se aproveita das suas inseguranças”, comenta.
O estudante Antônio Melo, de 25 anos, é homossexual e diz que passou por momentos difíceis durante o processo de aceitação. “Isso [lidar com a homossexualidade] me abalava muito antes de me assumir, porque eu sentia uma extrema falta de apoio. Eu também temia muito perder o apoio da pessoa que mais amo nesse mundo que é a minha mãe.”
Hoje, ele luta contra a depressão e tem o apoio da família, mas ainda se sente solitário. “Imagino o quanto seria extremamente devastador não poder falar com ninguém sobre o motivo dessa dor que consome a gente. O primeiro impulso é sempre querer acabar com esse sofrimento, mas eu sei que é aí que mora o perigo.”
O suicídio é um risco entre grupos vulneráveis
As questões explicadas anteriormente fazem com que a rede de apoio de uma pessoa que faz parte de grupos minoritários fique bastante frágil. Segundo Juliana, a hostilidade acaba sendo uma razão para que ela se isole — algo que acontece porque a pessoa se vê sem um canal para poder falar a respeito das suas angústias e singularidades — e pode levar ao suicídio.
“Quando ela não vê possibilidade de saída, o suicídio acaba surgindo como uma luz. Além disso, a gente pode ir mais além e falar das diversas violências físicas, na qual a existência da pessoa é negada”, diz a psicoterapeuta.
“Nesse sentido, a vida pode ser entendida como um fardo, uma obrigação da qual a pessoa quer se livrar, uma coisa insuportável, e não um direito, uma dádiva. Há uma perda da esperança de poder ser feliz, de poder ter uma vida que valha a pena ser vivida. Por isso digo que o suicídio é muito mais um fenômeno que tem como causa uma dimensão social do que biológica”, completa o psicólogo Ronaldo Coelho.
Ele afirma que, apesar dos índices de suicídio entre grupos minoritários só aumentar, a questão ainda não recebe o destaque que merece. “Muitas das pessoas que chegam a cometer o suicídio já ocupam um lugar de certa invisibilidade social, o que faz passar despercebido”, diz.
Essa questão é reconhecida pela Agenda de Ações Estratégicas para a Vigilância e Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil do Ministério da Saúde. O documento reconhece que, entre os fatores que necessitam de visibilidade, estão grupos étnico-raciais e LGBTs , e é preciso ampliar e disseminar “a compreensão de que o suicídio não pode ser tratado apenas como uma questão de ordem individual”.
Apesar de o debate sobre o assunto ainda avançar lentamente, existem centros de saúde que oferecem atendimento gratuito e, em alguns casos, especialmente voltado para esses grupos de vulnerabilidade social. Um exemplo é o Centro de Valorização da Vida , que dá apoio emocional e ajuda na prevenção do suicídio por telefone (188), email e chat 24 horas todos os dias.

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