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Alimentos: alta do diesel e inverno devem puxar inflação do setor
Especialistas não projetam aumento imediato por conta do reajuste dos combustíveis, mas baixas temperaturas podem atrapalhar oferta de hortaliças-fruto.
Após semanas de queda no preço dos alimentos in natura nos sacolões, o brasileiro deve enfrentar uma nova alta no setor nos próximos meses. Diante do reajuste do preço do óleo diesel nas refinarias e, principalmente, da chegada do inverno, integrantes do setor e economista já falam em uma possível inflação, que deve acontecer mas não será de imediato.
Nas Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas), o impacto do aumento dos combustíveis ainda não é sentido. Para o coordenador da seção de informações de mercado da empresa, Ricardo Martins, essa alta nos preços deve acontecer só caso seja combinada com uma crise na oferta de produtos, o que pode acontecer ao decorrer do inverno.
“Quando você tem uma oferta muito boa, dificilmente esse aumento do diesel vai causar algum impacto no preço. Quando esse aumento de combustíveis coincide com um período de oferta baixa, causa um impacto significativo. Talvez, a questão temporal agora, de frio intenso e ocorrência de geada, cause um impacto mais significativo”, diz Martins.
O coordenador da CeasaMinas prevê uma maior chance de alta nos preços das chamadas hortaliças-fruto, como abobrinha, berinjela, chuchu e tomate. Essas plantações são mais sensíveis a esses períodos de temperatura baixa e podem ser vítimas da inflação, combinada com o reajuste de 14,2% no litro do diesel.
Para o economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), Matheus Peçanha, o Brasil já vive uma inflação de custos há vários meses, diante dos reajustes consecutivos dos combustíveis, da pandemia e da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Para ele, os impactos da nova alta do diesel vão chegar, mas levarão mais tempo. “O que é reflexo indireto, a gente vai ver num espaço mais longo de tempo, porque depende dos contratos. Você já tem contratos firmados de fretes para cada setor. Dependendo do vencimento de cada um desses contratos, os novos reajustes serão incorporados (em futuras negociações). À medida que esses contratos forem sendo reajustados, a gente vai ver esse repasse chegando às gôndolas”, afirma Peçanha.
Ainda assim, ele lembra que o escoamento logístico quase que exclusivamente dependente dos caminhões faz a pressão inflacionária ser garantida até o fim do ano. “O diesel impacta em outros momentos da cadeia também, como o combustível do maquinário agrícola. Tudo isso faz o Banco Central ter que rever a meta da inflação não só deste ano, mas também de 2023”, diz o economista da FGV.
Gerente-executiva do Distrito de Irrigação do Jaíba II (DIJ II), no Norte de Minas, Anna Priscila Dias analisa o novo aumento do diesel com preocupação. “Afeta, pois tudo aqui é transportado por caminhões, consequentemente os preços aumentam. Isso vale tanto para os produtos que saem daqui, quanto para o custo de produção, pois os insumos também chegam da mesma maneira, via frete”, diz.
Supermercados preocupados
Em nota, a Associação Mineira de Supermercados (Amis) informou que a nova alta do diesel “pressiona, ainda mais, os custos não só do setor, mas de toda a cadeia produtiva até o consumidor final. Além disso, representa um passo na direção contrária do combate à inflação, um grande desafio do País neste momento”.
Por que a Petrobras reajustou?
O que a Petrobras regula é o preço do combustível nas refinarias. Dessa maneira, não incide nesta cotação outros impostos de alíquota definida, como o ICMS, PIS e Cofins.
O preço das refinarias leva em consideração a política de Preço de Paridade de Importação (PPI), instituída em 2016 no governo Michel Temer (MDB). Com isso, a cotação é definida a partir do custo para importar cada combustível.
Nessa conta, o consumidor sempre sai em desvantagem. O preço de importação tem a carga cambial (dólar mais valorizado que o real), o custo de logística e até os impostos das transações internacionais. Por isso, a gasolina e o diesel sempre ficam mais caros quando a cotação do petróleo no mercado externo se eleva.
Fonte: otempo.com
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